Meu Caminho Aikidoka

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terça-feira, 2 de janeiro de 2018

Meu Caminho Aikidoka - Gratidão


Então um novo ano se inicia. E com ele um universo cheio de novas oportunidades não é mesmo?
Essa época do ano mexe muito comigo, por várias razões. É sempre um misto de alegria, tristeza, ansiedade, medo e várias outras sensações misturadas. Eu gosto de ter um pequeno ritual comigo mesma no decorrer das semanas que finalizam o ano e as que iniciam o novo ciclo. Eu tento, no meio da correria das festas de final de ano, aquela loucura que todo mundo conhece, encerramento no trabalho, na escola dos filhos, na faculdade, mostra de dança da irmã, reunião com os amigos, término do cursinho e por aí vai... é compromisso que não acaba mais. Bem no meio de tudo isso eu tento tirar aquele tempo pra mim. Pra conversar comigo sabe. Olhar pra mim e pensar em tudo o que passou nos últimos 12 meses. Será que eu realizei os desejos que eu tinha lá em Janeiro? Será que hoje esses mesmos valores fazem sentido pra mim? Será que eu cresci? Me desenvolvi? Me aprimorei de alguma forma? Saí do lugar onde eu estava?
E eu me lembro de sempre ter aquela sensação de que o ano havia sido um enorme martírio. Com muitas dificuldades e tantos perrengues que eu até havia perdido as contas...
Esse ano, não diferente dos outros, o momento da minha reflexão chegou. Mas alguma coisa estava diferente. Eu não sabia bem o que era, mas era diferente. Eu simplesmente estava calma, tranquila comigo mesma. Isso não é muito natural em mim... Hahaha! Principalmente no momento em que eu ia olhar pra trás e reconhecer todas as cagadas que eu não poderia repetir no próximo ano.
Relembrando, eu vi que tinha uma vontade de segurar na mão de cada uma das pessoas que passou pelo meu ano e dizer só uma palavra: Obrigada!
E quando eu falo isso, é até engraçado, porque parece bem clichê né? Agradecer às pessoas que estão ao seu lado... Mas não, foi diferente porque eu queria encontrar as pessoas que em algum momento me fizeram passar por algo ruim e dizer: Obrigada!
Aquelas que deixaram no passado algum assunto mal resolvido, mal explicado, inacabado... Eu sentia uma necessidade de fechar os ciclos incompletos para que eu pudesse seguir adiante. Então foi isso que eu fiz. Fui até essas pessoas, e disse que as perdoava, que poderíamos seguir em frente, cada um no seu caminho, sem mágoas passadas. É engraçado porque, no fim, isso era o que elas precisavam também... seguir em frente. Por isso sou grata. Por essas pessoas terem me recebido, me ouvido, me aceitado e aceitado o meu perdão. Sou grata pois elas me ajudaram a evoluir. A enfrentar parte do meu passado e seguir.
Durante a minha reflexão de final de ano eu vou fazendo uma retrospectiva das coisas que eu fiz, que eu deixei de fazer, coisas que eu queria e não consegui e, esse ano, eu busquei também tudo aquilo que eu queria e consegui. Significa que este meu ano foi mais brando que os outros? Não... com certeza não. A diferença é que esse ano eu aprendi o que é gratidão. E isso só se aprende diante das dificuldades. 
É muito fácil ser grato quando o vento sopra ao seu favor e as coisas dão certo, sem te exigir muito esforço, não é? Mas o verdadeiro sentido da Gratidão está em agradecer pelas dificuldades. Ser grato por não conseguir comprar aquela coisa que você queria tanto mas depois descobriu que consegue viver tão bem sem ela. Ser grato por não conseguir atender a todos os compromissos pra reconhecer que precisa aprender a organizar o seu tempo. Ser grato por ter sido pego de surpresa por aquela tempestade e descobrir que a chuva nem é assim tão ruim como os outros diziam. 
As dificuldades nos fazem fortes. Mais um clichê aqui né? 
Mas é uma verdade absoluta.
Quando alguma dificuldade surge somos obrigados a sair da nossa zona de conforto. E isso é tão ruim! É ruim porque não sabemos o que vamos encontrar do outro lado da porta. É ruim porque somos obrigados a abri-la, querendo ou não, a porta vai se abrir. E temos medo. Medo do desconhecido. Mas, por que temos tanto medo do que não conhecemos? Temos medo porque fomos criados para sabermos tudo. Sempre temos que ter todas as respostas. Ai de nós falharmos.
Nós gostamos de segurança. Mas segurança não traz desenvolvimento.
Esse ano eu fui demitida. 
Depois do choque inicial eu percebi que não poderia ter me acontecido coisa melhor. A minha coordenadora disse que o meu perfil não se encaixava no que a empresa precisava. Após refletir um pouco sobre isso, ao invés de julga-la por não ter me ajudado a me desenvolver e me tornar o perfil que a empresa tanto desejava, eu decidi que tudo bem. Sabe, tudo bem eu não ser o que eles precisavam naquele momento. Tudo bem eu não ter as respostas, as atitudes, o conhecimento. Está tudo bem.
Em toda a minha vida trabalhando eu sempre pensei que precisava me desenvolver ao máximo, tirar o maior proveito de tudo, ser expert, ser a melhor. E para isso eu levava totalmente a sério tudo o que todos os meus superiores diziam, afinal, eles é que sabiam, não é mesmo? Eles sabiam tudo o que eu precisava ser: Aline, você precisa fazer isso, fazer aquilo, ser assim, ser assado... e lá ia eu, me desdobrar, fazer malabarismo pra alcançar o perfil, pra bater a meta, pra aguentar a pressão, ser a funcionária do mês, todos os meses, fazer "amizade" com quem precisava me "ver", ganhar uma promoção, e eu continuava mesmo quando os meus superiores contradiziam tudo o que tinham me exigido antes: Aline, você não pode fazer isso, nem aquilo, você não deve ser assim nem assado. Além disso, eu ainda queria ajudar todo mundo, ter amigos, ser saudável... O problema é que no meio disso tudo eu não sabia quem eu era. Eu não sabia o que eu queria nem pra onde eu estava indo, muito menos qual era o propósito de tudo isso... todo esse esforço, sendo alguém que eu não sou, que me desmotiva, que me estressa, que me adoece... para quê?
Então, se você, minha coordenadora, estiver lendo isso agora, saiba que sou grata, verdadeiramente, pela oportunidade que vocês me deram de me descobrir, ver quem eu realmente sou, ou pelo menos, ver o que eu não quero ser. Você tinha razão, o meu perfil não bate com o que a empresa precisa, e está tudo bem. É que eu não sou assim... e eu descobri que nem é o que eu quero me tornar. Obrigada por ter sido sincera, por ter me ensinado tudo o que eu aprendi com a sua equipe e por ter me dado a chance de tentar e descobrir que não era pra mim... e que eu não era pra vocês também. Desejo muito sucesso à vocês viu!!
Com a minha demissão eu tinha muito tempo livre. Então eu decidi fazer as coisas que eu gostava de fazer. Eu voltei a escrever. Eu me dediquei de corpo e alma aos treinos de Aikido (Domo Arigato Sensei Marcio por ter aberto as portas pra mim). Eu enfrentei meu medo de crianças. Eu comecei a andar de bicicleta e descobri que eu ainda sabia! Eu fui ao cinema com pessoas muito especiais, ver filmes muito dahora! Eu reencontrei velhos amigos. Eu tomei muito café! 
Sabe o que é mais interessante? Eu sempre pensei que amasse dormir... eu estava sempre cansada, sempre pensando na hora de ir dormir, e sempre queria dormir até muito tarde, sempre achando que eu dormia muito pouco, que isso me fazia mal... Agora me perguntem se depois da minha demissão eu dormia até tarde... Não! Foi o período que eu mais levantei cedo na minha história! Sabe o que mais? Eu levantava rindo! Porque os compromissos que eu tinha eram mais do que prazerosos! Porque eram coisas que eu gostava! Coisas que eu queria e nem sabia!
Nesse período surgiu a oportunidade de cuidar da minha sobrinha pequena (olha o medo de criança sendo desafiado aí de novo). Ela não tem um ano ainda e a minha missão era ficar algumas horas com ela entre o horário que o pai dela saía para trabalhar até o horário que a mãe dela chegava em casa. Durante o período que eu fiquei com ela eu pude aprender várias coisas. Eu troquei fraldas pela primeira vez, dei comida, água, cantei canções de ninar, brinquei, aprendi musiquinhas infantis... Mas sabe o que mais me chamou a atenção? Foi ver o quanto um bebê é igual à nós adultos. Os bebês precisam aprender várias coisas, e nós também. E precisam fazer isso muito rápido, nós também.
Ela tem menos de um aninho e está na idade de começar a sentar, ter um pouco de noção do seu corpo, do espaço, etc. Nós colocávamos ela sentada, toda envolta em travesseirinhos pra ela não se machucar quando caísse até que ela se acostumasse. Mas, toda vez que ela caía, não sabia o que fazer e começava a chorar. Eu, desesperada, ia correndo acudir, sentava ela de novo, até que ela caísse mais uma vez e chorasse mais uma vez. Eu observei que ela não fazia esforço nenhum pra levantar. Ela não sabia como. Então, quando ela caiu de novo, eu fiquei observando. Como esperado, ela já abriu o berreiro de cara. Pra ela já era uma associação: posição desconfortável + choro = sentada de novo. Então eu não fui correndo colocar ela sentada. Deixei ela chorar por um tempo (desculpa cunhada! rsrsrsr), logicamente ela não levantou sozinha, mas eu decidi ajudar ela, e não deixar ela pronta sentada. Ela precisava ver que conseguiria, mesmo sem a minha ajuda. Depois disso, toda vez que ela caía, eu deixava ela chorar por um tempo antes de ir ajudá-la. Até o dia em que ela caiu e começou a lutar, obviamente sem sucesso, antes de abrir o berreiro. 
E eu fiquei pensando nisso por um tempo depois. Eu já fui bebê também. A minha mãe me viu passar pelas mesmas dificuldades que a minha sobrinha está passando, e me ensinou. Me ensinou a levantar, e por isso eu sei sentar hoje. Porque ela me deixou chorar para que eu descobrisse o que eu precisava fazer pra sentar sozinha. E depois, pra ficar de pé sozinha, andar sozinha, comer, andar de bicicleta... para poder fazer todas essas atividades eu sofri, eu caí, eu chorei. E eu sou grata mãe, por todas as vezes que você me ajuntou do chão, em prantos, e me pôs novamente sentada, depois em pé. Mas mãe, eu sou muito mais grata pelas vezes que você me deixou chorar até que eu descobrisse que era capaz.
Hoje, na vida adulta, não é diferente. Temos muitas pessoas ao nosso redor nos auxiliando em tudo o que fazemos, e isso é bom! Ah isso é ótimo! Isso faz bem!
"Mas Aline, você não acabou de dizer que temos que sofrer, aprender e blá, blá, blá!?"
Sim, disse e não estou desdizendo o que foi dito.
Vejam que eu estava cuidando da minha sobrinha. Ajudando ela a sentar. E eu sou grata por isso. Se ela já soubesse sentar, eu não teria a oportunidade de ajudar alguém a sentar, eu nem teria aprendido a ajudar alguém a sentar. E eu também sofri... ouvir ela chorando não era fácil, doía no coração. Se eu não a tivesse ajudado ela não saberia sentar, ela nem teria noção de que é capaz...
Conseguem ver como é uma troca?
Essa com certeza foi a minha lição de 2017. Gratidão.
Então, sempre que alguém te oferecer auxílio com algo, aceite! Seja grato! Não importa se você já sabe fazer muito bem feito isso ou aquilo! Eu sei que você faz muito bem sozinho, você também sabe... não tem que provar nada pra ninguém. Aceite simplesmente. Dê a oportunidade de uma outra pessoa ajudar alguém. Dê à outra pessoa aquele gostinho de dever cumprido que a gente sente depois de ajudar!
E mais importante, ajude as outras pessoas. Seja grato sempre que você for ajudar alguém. Seja grato pela oportunidade de partilhar o seu conhecimento e fazer um conhecimento novo! Não ajude esperando algo em troca, isso não é partilhar, nem ajudar.
Sabe aquele ditado: Gentileza gera gentileza?
Então, é assim mesmo.
A gentileza que você faz hoje, vai voltar pra você, pode ter certeza. A questão é que ela não volta do mesmo lugar onde ela foi aplicada. Ela pode vir de qualquer lugar, de qualquer pessoa... a gentileza que você espera dessa pessoa com quem você foi gentil já foi destinada a outro... assim como a sua gentileza também não volta necessariamente pra quem foi legal com você... e assim é a vida.
Seja grato!
Sempre!