Meu Caminho Aikidoka

Total de visualizações de página

domingo, 3 de setembro de 2017

Meu Caminho Aikidoka - O 5º Kyu


Quando você inicia em um projeto, um caminho, você o faz com determinados objetivos. Todas as situações resultam em algum tipo de evolução, do qual você espera obter reconhecimento, aquele sentimento de satisfação e dever cumprido, ou pelo menos experiência.
A minha caminhada no Aikido não tem sido diferente. Ainda que cada um de nós dentro do tatame carreguemos diferentes histórias e os mais variados motivos para estarmos ali naquele momento, todos, de alguma forma, buscam mudar em algo, evoluir de certa forma.
No momento em que você é aceito pelo Sensei para treinar no Dojo, você acredita ter iniciado a trajetória, que para muitos assim como eu, é uma trajetória de vida. Significa a curva que o fará mudar de direção e, enfim, conseguir seguir o seu destino.
O que você não percebe no primeiro momento é que, assim como tudo na vida, antes de iniciar algo, você precisa aprender, treinar, praticar, estudar, se dedicar, para apenas então poder iniciar, de fato, a sua caminhada.
O seu treinamento inicia e você sabe que, cedo ou tarde, os seus conhecimentos técnicos serão colocados à prova.
De tempos em tempos o Sensei convida seus deshis a demonstrarem suas habilidades frente à banca avaliadora. Receber esse convite, além de uma honra, significa o reconhecimento do seu Sensei perante o seu esforço e é também a grande oportunidade de você retribuir os conhecimentos que, por ele, lhe foram passados no decorrer do caminho até ali. Você não o quer decepcionar nesse momento.
Por todo o tempo eu segui acreditando que eu devia me preparar para o tal exame. Para o momento crucial onde você será avaliado e testado. Então eu treinei, todos os dias durante as semanas que antecederam ao tão esperado dia. Eu tinha que estar afiada. Eu precisava provar que eu era capaz. Mas, provar para quem? Para o Sensei, eu pensava. Para a banca. Para o Mestre. Para o colega... Ledo engano. Eu queria poder provar à mim mesma.
Às vezes é estranho você perceber o quanto outras pessoas conseguem ver em você qualidades e capacidades que você não acredita ter. O Sensei sabia que eu estaria preparada. Eu é que não sabia. Que me subestimava.
Várias pessoas me perguntavam da faixa, do tal "cerimonial de entrega da faixa no dia do exame", não fazia sentido para mim pois, diferente de alguns eu percebi que, no fim, não se trata da sua faixa. Não se trata de você ser amarela, verde ou preta. O que realmente conta, é o quanto você conseguiu evoluir o seu interior até aqui. O quanto você se permitiu mudar de um estado à outro.
No dia do exame a banca vai avaliar os seus movimentos e anotar a sua lição de casa. Mas eu percebi que o que realmente conta é a minha experiência interior naquele momento. O quanto eu pude perceber o meu estado emocional, o meu controle sobre o meu corpo e a minha mente. Lembrar de respirar.
Antes eu pensava que o bom exame era aquele que trazia como resultado, além da aprovação, praticamente zero anotações de lição de casa. Mas cheguei à conclusão de que não haveria propósito nisso, não é mesmo? Se não há o que melhorar, qual o sentido da caminhada?
Eu percebi que o exame em si é o momento de você errar. Matéria decorada não é obrigatoriamente aprendida. E, assim como em todos os outros segmentos da vida, são nos testes que as falhas são permitidas. Você estuda, pratica e observa para falhar na hora do teste. Antes que falhe na hora do lançamento do foguete da vida real. Antes de jogar tudo pelos ares na explosão da bomba atômica. Antes, você falha nos testes, para não falhar na vida.
Muitas vezes as pessoas se cobram demais, se culpam demais, se aborrecem demais. Nós achamos que precisamos ser perfeitos. Atingir à todas as expectativas sempre. Que é nossa obrigação fazer tudo certo sempre. Mas, como meu Sensei um dia me falou: "O que é realmente certo? O que é realmente errado? Certo aos olhos de quem?" Por vários dias após esta conversa com o Sensei eu refleti. Nas minhas reflexões busquei situações que eu vivia na minha vida. Nas quais pude observar as pessoas julgando umas às outras e até a mim. O mais engraçado é que quando eu lhes fazia essa mesma pergunta: "O que te leva a acreditar que fulano agiu errado?" ou "Que provas você tem de que para esta pessoa, na situação dela, não era a atitude correta naquele momento?", não havia resposta... O máximo que conseguiram me responder foi: "Ah, se fosse eu, teria feito assim, assim e assado!" - Exato! Se fosse eu, ou você, com certeza teríamos agido de formas distintas. Mas o fato é que isso não responde à pergunta, não é mesmo? Conte-me mais sobre o dia em que Aletheia lhe nomeou o mestre terreno detentor de toda a verdade para que seja seu o pensamento correto e não o de fulano... Sua a atitude correta e não a de beltrano... Correto aos seus olhos, não é mesmo? Sem levar em conta que esta equação possui tantas variáveis quanto há estrelas brilhando no céu.
Constantemente usamos esta frase sem ter o conhecimento da realidade do outro. Não nos damos conta de que, por mais que convivamos com alguém, por mais que pensemos conhecer uma pessoa, jamais poderemos, de fato, prever o que vai no seu interior mais profundo.
Recentemente tive a oportunidade de assistir à um filme que a Netflix lançou: Onde está Segunda. No seu enredo simples pude ver que, por mais que nos esforcemos, por mais que a nossa sobrevivência dependa disso, jamais saberemos com precisão as razões que levam as pessoas a fazerem o que fazem ou agirem como agem. Todos temos segredos que guardamos no interior de nossas almas. E não, não estou aqui dizendo que toda e qualquer ação deva ser aceita. Muito pelo contrário. Cada ação traz consigo uma consequência e teremos de lidar com ela cedo ou tarde.
Enfim, o importante é você aprender a fazer o seu melhor sempre. Fazer sempre mais e de acordo com a sua capacidade. Não se julgue por achar que errou. Não se veja inferior ao se comparar com o próximo. Apenas faça melhor na próxima vez e seja verdadeiro consigo mesmo, pois sempre haverá uma próxima vez. Entender que não sabemos tudo hoje e saberemos menos ainda amanhã, é o verdadeiro início da jornada.
Para mim, o exame para 5° Kyu significou o real início da caminhada. Pois nele entendi que sei menos hoje do que pensei que sabia ao entrar no Dojo pela primeira vez.

Manter a mente de principiante, sempre.

segunda-feira, 28 de agosto de 2017

Meu Caminho Aikidoka - A Autodescoberta

Muito se passava em meu interior quando o Aikido me encontrou e resolveu que deveria me resgatar da destruição a que eu, incansável, me impunha.
Eu passava por um momento em que culpava os outros por tudo, pela minha infelicidade, pela minha falta de sorte, pelo meu insucesso e pelas minhas derrotas. 
Eu estava sempre cansada. De lutar, de levantar, de respirar, de existir.
Quando o Aikido veio até mim (insistentemente, devo ressaltar) através de uma postagem da página do Minami No Tani Dojo (onde hoje treino com muito orgulho) no Facebook eu não dei a mínima importância. Eu ficava pensando que tipo de liberdade eu possivelmente havia dado para uma página qualquer aparecer sem a minha autorização no meu feed... Sim, eu havia me tornado esse tipo de pessoa.
Acontece que a postagem apareceu de novo e de novo e mais uma vez antes que eu decidisse abri-la e me fazer a seguinte pergunta: "Mas que p* é essa de Aikido??" e "O que tem de tão especial nisso que possa me acalmar o espírito e me relaxar?"
A construção da imagem me chamou demasiada atenção, pois de imediato enxerguei o lado em que eu me encontrava, ao mesmo tempo em que expunha, de forma como se fosse fácil alcançar, o lado onde eu ansiava estar.

Na época existiam dois tipos de dias na minha vida, os dias ruins e os dias péssimos. Neste dia ruim depois de ver a imagem eu lembro de ter pensado: "Caramba, é disso que eu preciso na vida!" e de repente eu tive curiosidade. Algo que há muito não sentia. Curiosidade de saber o que era Aikido, curiosidade de saber se realmente funcionava, curiosidade de saber se eu seria capaz de conseguir me desvencilhar de toda a pesada névoa que me envolvia a alma. E foi esse turbilhão de energia vinda do cosmos que me deu a coragem para abrir o meu e-mail e escrever para o Sensei Marcio Maestri (meu Sensei e orientador hoje).
Confesso que assim que cliquei em enviar, me arrependi completamente e comecei a me martirizar. Pensava em como eu poderia estar sendo tão estúpida a ponto de depositar esperança em um post do Facebook. O meu inconsciente me dizia que eu jamais receberia qualquer tipo de resposta, as coisas não poderiam ser tão fáceis assim, quanta ingenuidade da minha parte crer que todos os meus problemas desapareceriam porque eu decidi enviar um e-mail! De repente era como se o meu interior estivesse rindo gargalhadas de mim e da minha atitude infantil.
Eu desliguei o computador e decidi que não pensaria mais naquilo. Foi então que, em menos de uma hora, eu recebi uma notificação de novo e-mail no celular. Era o Sensei Marcio em resposta à minha mensagem. Eu não podia acreditar! Haviam me respondido! Não se tratava de uma máquina afinal! Li o conteúdo com curiosidade e atenção. Fiquei ansiosa. Queria sair de casa naquele momento e ir fazer a tal aula experimental e queria que tudo se transmutasse de um estado a outro antes do amanhecer. Depois desse primeiro contato ainda levaram meses para que eu de fato iniciasse a minha caminhada. Antes eu coloquei todos os empecilhos que consegui inventar entre o meu caminho e eu.
No fundo era medo. Medo de ter que enfrentar a mim mesma ao descobrir que a culpa nunca foi dos outros, as escolhas nunca dependeram dos outros e além disso, aceitar que eu, sozinha, havia me condicionado a viver daquela forma infeliz.
Quando você inicia a caminhada no Aikido você se sente leve, invencível e feliz por estar fazendo alguma coisa diferente. Mas você também se sente inseguro. Exatamente pelo mesmo motivo.
Quando você chega em casa e expõe para a família que vai começar a treinar Aikido, ninguém sabe do que você está falando, na verdade, nem você sabe direito do que você está falando.
Não é como se você chegasse e contasse que se matriculou em uma academia de ginástica, dança, natação ou em uma arte marcial popular como Jiu Jitsu e Karatê. O que na cabeça das pessoas faria muito mais sentido pois, as primeiras servem para emagrecer e as últimas para dar umas porrada nos outros.
Conforme o tempo vai passando, vagarosamente você começa a perceber que está diferente, que está enxergando as coisas de forma diferente e que as técnicas do tatame já se estendem para a sua vida fora dali, você se dá conta de que, no fundo, não é uma questão de mudar o mundo, e sim uma questão de SE mudar para o mundo. E é aí que começa a parte complicada. Você já sabe que não vai chegar no dojo na hora do treino, aquecer, treinar uma técnica qualquer e depois ir embora. Você sabe que ao chegar no tatame você vai precisar se preparar para ele e para tudo o que ele te trouxer. Então você se prepara. Se prepara para tudo aquilo que você ainda não sabe. Você se prepara para treinar com outros, mas olhando para dentro de si. Para estar na presença de outros, mas olhar apenas para o seu movimento, cuidar da sua respiração e fazer o seu caminho. Você se prepara porque você já confia. E mesmo que você não tenha nenhuma das respostas, você segue com a plena convicção de que vai dar certo. Você já sabe que precisa passar por aquilo e aceita, e aprende.
Não há treino de Aikido do qual você saia da mesma forma que entrou. Cada dia é uma nova oportunidade de se conhecer e, se você se permitir, ir além.
Você percebe que cada uma das pessoas no tatame estão em momentos muito diferentes da caminhada e você entende que a empatia não é nada daquilo que sempre te disseram. Toda aquela história de se colocar no lugar do outro é nada mais que uma utopia impossível. Você simplesmente não pode se colocar em algumas situações e dizer que entende, ou que pode imaginar. E você percebe que a empatia é na realidade o ato de não julgamento na sua essência.
Ao se conhecer você descobre que julgar apenas afasta e dificulta o seu desenvolvimento.
O interessante é que o ato de não julgamento te abre portas que você nem imaginava que pudessem estar ali e isso te aproxima das pessoas e com o tempo você vê que a maioria delas não quer que você as entenda, não quer que você sinta o que elas sentem e muito menos que possa dizer que sabe como é passar pelo que elas passaram... elas só querem ser aceitas pelo que elas são. Pelo que elas trazem na bagagem que, em suma, é muito do que elas não escolheram carregar. Mas as coisas são como são e estamos aqui para lidar com tudo isso da melhor forma que conseguirmos sem despedaçar mais almas ao nosso redor.
"Se você conhece o inimigo e conhece a si mesmo, não precisa temer o resultado de cem batalhas. Se você se conhece mas não conhece o inimigo, para cada vitória ganha sofrerá também uma derrota. Se você não conhece nem o inimigo nem a si mesmo, perderá todas as batalhas..." - Sun Tzu